Contexto Paulista: Dez boas notícias sobre o coronavírus

Wilson Marini – Rede APJ

A pandemia de gripe de 1918 causou mais de 25 milhões de mortes em menos de 25 semanas. Algo semelhante poderia acontecer novamente hoje? Provavelmente não. Essa é a opinião de Ignacio López-Goñi, professor de microbiologia na Universidade de Navarra, Espanha. Nunca estivemos tão preparados para combater uma pandemia, diz ele em artigo publicado no site The Conversation, que aborda jornalismo e ciência. O site não tem fins lucrativos e é financiado pela universidade e pelo setor de pesquisa, governo e empresas. Seus colaboradores são autores acadêmicos. As boas notícias são fundamentais para compreender o cenário provocado pela pandemia do coronavírus à luz dos avanços da ciência sobre esse tema, manter a confiança e agir com equilíbrio na prevenção e enfrentamento da doença. É necessário informar o que está acontecendo, mas também precisamos de boas notícias, ressalta o articulista. Suas ideias foram traduzidas pela BBC para o Brasil. Segue um resumo dos dez tópicos abordados, que formam uma espécie de Manual das Boas Notícias sobre Coronavírus.

1. Sabemos quem é

Os primeiros casos de Aids foram descritos em junho de 1981 e foram necessários mais de dois anos para identificar o vírus causador da doença. Os primeiros casos do novo coronavírus foram relatados na China em 31 de dezembro de 2019 e em 7 de janeiro o vírus já havia sido identificado. O genoma estava disponível no dia 10. As análises genéticas confirmam que ela tem uma origem natural recente (entre o final de novembro e o início de dezembro) e que, embora os vírus sofram mutações, sua frequência de mutação não é muito alta.

2. Sabemos como detectá-lo

Desde 13 de janeiro está disponível para todo o mundo um teste de RT-PCR para detectar o vírus. Nos últimos meses, esses tipos de testes foram aperfeiçoados e tiveram sua sensibilidade e especificidade avaliadas.

3. Na China, a situação está melhorando

As fortes medidas de controle e isolamento impostas pela China estão gerando resultado. Há semanas, o número de casos diagnosticados diminui a cada dia. Em outros países, está sendo realizado um acompanhamento epidemiológico muito detalhado. Os focos são muito concretos, o que permite que eles sejam controlados mais facilmente. Por exemplo, na Coreia do Sul e em Cingapura.

4. 81% dos casos são leves

A doença não causa sintomas ou é leve em 81% dos casos. Em 14%, pode causar pneumonia grave e em 5% pode se tornar crítica ou letal.

5. Cura

Paciente recebe alta de hospital em Wuhan, epicentro do surto na China. Os únicos dados que às vezes são mostrados na mídia são o aumento no número de casos confirmados e no número de mortes, mas a maioria das pessoas infectadas é curada. Há 13 vezes mais pacientes curados do que mortos, e a proporção está aumentando.

6. Quase não afeta menores de idade

Apenas 3% dos casos ocorrem em menores de 20 anos e a mortalidade em menores de 40 anos é de apenas 0,2%. Nas crianças, os sintomas são tão leves que podem passar despercebidos.

7. O vírus é facilmente inativado

O vírus pode ser inativado das superfícies com uma solução de etanol (álcool 62-71%), peróxido de hidrogênio (água oxigenada a 0,5%) ou hipoclorito de sódio (lixívia a 0,1%), em apenas um minuto. A lavagem frequente das mãos com água e sabão é a maneira mais eficaz de evitar o contágio.

8. Já existem mais de 150 artigos científicos

É o tempo da ciência e da cooperação. Em pouco mais de um mês, 164 artigos já podem ser consultados no PubMed sobre covid-19 ou SARSCov2, além de muitos outros disponíveis nos bancos de artigos ainda não revisados (pré-impressões). São trabalhos preliminares sobre vacinas, tratamentos, epidemiologia, genética e filogenia, diagnóstico e aspectos clínicos. Esses artigos foram preparados por cerca de 700 autores espalhados pelo planeta. É ciência em comum, compartilhada e aberta. Em 2003, quando a Sars aconteceu, levou mais de um ano para obter menos da metade de artigos.

9. Já existem protótipos de vacinas

Nossa capacidade de projetar novas vacinas é espetacular. Já existem mais de oito projetos contra o novo coronavírus. Existem grupos que trabalham em projetos de vacinas contra outros vírus semelhantes e agora tentam adaptar as pesquisas. O que pode prolongar seu desenvolvimento são todos os testes necessários de toxicidade, efeitos colaterais, segurança, imunogenicidade e eficácia na proteção. É por isso que se fala em vários meses ou anos, mas alguns protótipos já estão em andamento.

10. Existem mais de 80 ensaios clínicos com antivirais em andamento

As vacinas são preventivas. Mais importantes são os possíveis tratamentos de pessoas que já estão doentes. Já existem mais de 80 ensaios clínicos para analisar tratamentos contra coronavírus. São antivirais que foram usados para outras infecções, já aprovados e que sabemos que são seguros. Um dos que já foram testados em humanos é o remdesivir, um antiviral de amplo espectro, ainda em estudo, que foi testado contra Ebola e Sars/Mers. É um análogo da adenosina que é incorporado na cadeia do RNA viral e inibe sua replicação.