Contexto Paulista: Butanvac vai garantir autonomia nacional em vacina contra a covid-19

Wilson Marini – Rede APJ

wilson.marini@gmail.com

Esta coluna é publicada pelos grupos de comunicação da Associação Paulista de Portais e Jornais (APJ), rede formada por 16 líderes de prestígio regional com circulação no Estado de São Paulo

Em meio a inúmeras notícias ruins relativas à pandemia, o fim de semana foi contemplado com um toque positivo e de esperança para os paulistas e brasileiros. O governo de São Paulo informou que o Instituto Butantan iniciou o desenvolvimento e a produção-piloto da primeira vacina brasileira contra o novo coronavírus, a Butanvac. A revelação da novidade foi precedida de suspense como estratégia de marketing para marcar o anúncio histórico. Um vídeo do Palácio dos Bandeirantes circulou na véspera informando que “mais uma vez, a ciência nos enche de esperança na luta contra a covid-19”, sem dar detalhes sobre o fato. Na sexta-feira pela manhã, o governador João Doria desvendou o mistério com incontido entusiasmo: “Este é um anúncio histórico para o Brasil e para o mundo. A Butanvac é a primeira vacina 100% nacional, integralmente desenvolvida e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, que é um orgulho do Brasil. São 120 anos de existência, o maior produtor de vacinas do Hemisfério Sul, do Brasil e da América Latina e agora se colocando internacionalmente como um produtor de vacina contra a covid-19”. A expectativa é distribuir a vacina ainda este ano.

Por dentro

Segundo Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, a nova vacina brasileira terá perfil alto de segurança. “Nós sabemos produzir a Butanvac, temos tecnologia para isso, e sabemos também que vacinas inativadas são eficazes contra a covid-19”.

Conhecimento

O diretor-presidente do Butantan, Dimas Covas, afirma que a tecnologia utilizada na Butanvac é uma forma de aproveitar o conhecimento adquirido no desenvolvimento da Coronavac, vacina desenvolvida em parceria com a biofarmacêutica Sinovac, já disponível.

Repercussão

Para o neurocientista Renato Sabbatini (doutorado pela USP e pós-doutorado no Instituto Max Planck na Alemanha), se der certo, a Butanvac será uma “enorme conquista em muitos sentidos”. E deve dar, diz ele, pois “utiliza uma tecnologia amplamente dominada pelo Instituto Butantan na fabricação da vacina antigripal, totalmente feita no Brasil, e fabricada anualmente em larguíssima escala”.

Destaques

Logo após a entrevista coletiva de Doria, o professor Sabbatini autorizou a coluna publicar os seguintes tópicos referente à sua análise sobre a Butanvac:

●     Tecnologia brasileira, não usamos recursos para importação.

●     Domínio da tecnologia: pode ser alterada, ampliada e melhorada continuamente sem ter que combinar com os fornecedores externos. Aproveita um ano de crescimento do conhecimento sobre o vírus, a doença e as melhores práticas de imunização.

●     Insumos IFA produzidos nacionalmente, reduzindo a dependência do exterior. Disponibilidade rápida, sem precisar autorização, transporte aéreo, alfândega etc.

●     Testes pré-clínicos e clínicos mais rápidos, não pedimos favor pra ninguém, e Anvisa vai ter “pipeline” (linha de aprovação rápida, como acontece com as outras vacinas produzidas pelo Butantan).

●     Exportação para outros países: entrada de divisas e prestígio para a ciência biomédica brasileira, uma das melhores do mundo.

●     Entrada do Brasil para o seleto clube de países que realmente inventam e fabricam seus próprios bioterápicos.

●     Escalamento rápido da produção: sendo aprovada pela Anivsa na fase III, até o final de ano teremos mais 60 a 100 milhões de doses disponíveis. Barata: utiliza cultura do vírus em ovos galados (embrionados), ao invés de células de rim de macaco-verde em cultura, muito mais caras e com poucos produtores mundiais. Não preciso dizer que o Brasil é um dos maiores produtores de ovos do mundo…

●     Já pode ser produzida de forma polivalente, com os antígenos das variantes brasileiras do coronavírus, atual (P.1) e futuras que surgirem. Que não interessam, inicialmente, aos outros fabricantes da vacina anti-CoV-2.

●     Dobradinha vencedora com a seroterapia (soro hiperimune) contra o CoV-2, produzida também com técnica inventada há 100 anos pelo Butantã, que já está entrando em testes clínicos, e que vai permitir diminuir a gravidade das pessoas infectadas.

●     Fábrica ampliada, construída com recursos do SUS, do governo paulista (nossos impostos bem aplicados) e enormes doações da iniciativa privada, que sabe onde pode realmente ajudar a salvar vidas.

Enfrentamento das mutações

O mais importante, segundo o professor Sabbatini, é que, como acontece com a influenza (gripe) H1N1 e outras, teremos a capacidade de fabricar anualmente novas variantes da vacina para enfrentar as mutações do vírus. “A covid-19 ameaça ser uma endemia, que vai durar para sempre, e teremos que manter a imunização coletiva em níveis mínimos para diminuir a morbidade (doença) e mortalidade!”, diz ele.

De Ribeirão Preto

Horas depois da coletiva do governo estadual sobre a Butanvac, o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, o bauruense Marcos Pontes, disse que uma outra candidata a vacina contra a covid-19, a Versamune, solicitou na quinta-feira (25) autorização para testes em voluntários. É desenvolvida pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) em parceria com duas empresas do setor. “Coincidência, bom para o país”, disse Pontes. Além disso, outros protocolos de pesquisa de vacina contra a covid-19 estão em avaliação no país.