Wilson Marini – Rede APJ
Quanto pode crescer uma cidade em tamanho e em habitantes? Do que depende? Como abordar a segurança sem romper o tecido da cidade com urbanizações? Que papel os carros terão nas cidades nas próximas década? Como abordar o turismo para evitar a ruína das cidades? Essas perguntas foram respondidas a um questionário enviado pelo site internacional ElPaís a quatro especialistas globais. A coluna Contexto Paulista resume aqui as ideias de dois deles, o arquiteto britânico Norman Foster, ganhador do cobiçado Prêmio Pritzker de 1999, e Nicholas Negroponte, cofundador do MIT Media Lab. Nas próximas colunas, serão reproduzidos os demais.
O tamanho da cidade
Norman Foster – É difícil colocar um limite máximo para uma megacidade. A maior, Tóquio, com uma população que supera os 38 milhões de habitantes, proporciona boa qualidade de vida e é uma das regiões mais prósperas do mundo. Há dois aspectos fundamentais que determinam o sucesso de uma cidade: um investimento adequado e contínuo em infraestruturas como transporte público e outros serviços para se adaptar ao ritmo de crescimento da população, e o desenvolvimento de uma planta compacta e densa, com bairros de uso misto que favoreçam a vida urbana.
Nicholas Negroponte – Não acho que exista um limite de tamanho. Supondo que uma megacidade do futuro possa ter um limite nítido – sem zonas residenciais nem subúrbios como anéis exteriores, aproximando-se assintoticamente do rural – deveria, em teoria, poder abrigar 100 milhões de pessoas. A partir daí, a razão para não crescer mais seria a distância entre elas. Poderiam estar perto demais.
Segurança e sociedade
N. F. – Há muitas formas sutis de fazer com que um lugar se torne mais seguro que não representam a criação de um limite rígido. Por exemplo, os bairros de uso misto fomentam um âmbito público ativo, criando uma situação na qual sempre há “olhos na rua”, o que torna muito menos atrativo para as atividades antissociais. Até o Anel de Aço da City londrina, incentivado por segurança, foi benéfico para quem trabalha no coração financeiro da capital. Encontrou certa resistência inicial, mas agora quase todos concordam que esse e outros planos audaciosos contribuíram para a vitalidade econômica e cultural de cada um desses centros urbanos. Nossos projetos para a sede da Bloomberg na City combinam de modo inovador elementos de segurança com arte pública e paisagismo para criar um espaço público humanos e habitável. A “pedestrização” de espaços importantes também proporciona uma discreta proteção contra atentados com carros e caminhões, e melhora a qualidade de vida.
N. N. – Conseguir uma segurança elevada não está tão relacionado com as cercas e com o tecido da cidade como com a privacidade e a identificação. A solução a longo prazo é a educação. A solução a médio prazo corre o risco de ser orwelliana, mas isso já somos em muitos aspectos.
O futuro dos carros
N. F. O carro consome muito espaço, tanto quando circula como quando permanece ocioso. Na verdade, em 95% do tempo não é utilizado. Caminhar, deslocar-se de bicicleta e um transporte público bem planejado oferecem um uso mais eficiente do espaço. É importante criar um urbanismo de uso misto. Em alguns países os jovens têm menos obsessão por obter o documento de habilitação do que a geração anterior, já não têm a necessidade de ter seu carro, e “consomem mobilidade como serviço”. Conforme evolui a tecnologia, veremos limites cada vez menos nítidos entre os diferentes meios de transporte. Os carros continuarão tendo importância nessa mistura, mas estarão mais integrados no sistema de transporte. Com o tempo serão mais limpos, silenciosos e provavelmente em menor número. Isso melhorará a qualidade de vida urbana, com ruas menores e praças e parques maiores.
N. N. – Que função terão os carros no futuro? Nenhuma. Não vai haver carros da forma que conhecemos atualmente. Vai haver cápsulas para transportar pessoas e entregar mercadorias, mas não motoristas como você e eu. Um documento de habilitação é como uma licença de portar armas.
Turismo e população local
N. F. – É uma questão difícil, e não tenho uma resposta mais rápida do que destacar que, historicamente, as cidades têm resistido e têm passado por mudanças significativas ao longo do tempo. É provável que a revolução no transporte crie mais oportunidades de “pedestrização” que reduzam o congestionamento provocado pelas multidões de turistas. Mas também devemos ter em mente a riqueza que os turistas aportam à economia das cidades. As questões de preço e acessibilidade do solo estão submetidas a vários fatores interrelacionados e complexos, que os políticos devem resolver tomando a iniciativa e colaborando com o setor privado.
N. N. – Simples, se adaptam os impostos dos imóveis a seu valor líquido, não apenas ao valor do terreno ou da construção. A entrada dos turistas sem dúvida é boa para a economia local.